A onça
Jardim Author
Publisher: Autografia
Summary
CRÔNICAS, POEMAS E REFLEXÕES – 1996 O QUE É O MUNICÍPIO BRASILEIRO – 2012 ALÉM DAS ASAS DA IMAGINAÇÃO – 2012 ORAÇÃO PELO BRASIL – 2017 CONTOS & ENCONTROS - 2018 Quando virei à esquina O que era escola é school Mas não é só no meu bairro Isso é de norte a sul. As lojas da minha cidade Todas têm nome em inglês Elas são para estrangeiros Ou para mim e vocês? A praça se chama square O campo se chama field O meu país já não é A terra dos meus avós E a culpa é minha e é sua A culpa é de todos nós. Para comprar vou ao shopping Não é mais senha, é pin Se está dopado é doping O português está no fim. Comprei o meu notebook Em um grande outlet Comprei também um pen drive E também um tal tablet. Mas o troco é em real Não foi dólar não senhor Me deram um mundo irreal Longe de mim, sem valor. No meu rádio toca um som Que eu não consigo entender Não sei se é ruim ou é bom Nem se tem algo a haver. Quando liguei a tevê Todos falavam em inglês Velhos, moços e até bebês Deram adeus ao português. Enfim, peguei um jornal Para saber onde estou Só falavam em Nova Iorque E quando em vez em Moscou. Na escola a prioridade É falar bem o inglês E se você tiver tempo Um pouco do português. Eu já estava me sentindo Cidadão americano Do Brasil, me despedindo Como um nômade, cigano. Mas aí bem de repente Tudo teve um revés E aquilo o que era foot Voltou mesmo a ser pés. School voltou para escola Ball voltou a ser bola E você voltou também. E o que ficou para mim Foi um ditado que dizia: ‘Se o Brasil fosse ruim O estrangeiro não o queria.’